João Caldeira, sócio na CMS Rui Pena & Arnaut, discute o mercado Português

João Caldeira é sócio na CMS Rui Pena & Arnaut e tem desenvolvido a sua actividade profissional predominantemente na área das sociedades comerciais, fusões, aquisições, reestruturações societárias, capitais de risco, joint ventures, mercado de capitais e corporate finance.

Apesar do ano não ter terminado ainda, é possível já realizar uma análise do que esse ano representou para o mercado português de M&A?

As previsões assentes nos dados disponíveis indiciam que a atividade de M&A na Europa no ano de 2017 terá um crescimento ligeiramente negativo ou nulo comparativamente com o ano de 2016. Esta tendência resulta sobretudo de um comportamento menos favorável da atividade de M&A em mercados muito relevantes como o do Reino Unido, Alemanha e França, que contrasta com um crescimento positivo da atividade de M&A noutras regiões, designadamente na Europa de leste e na Europa do sul.

O crescimento negativo ou nulo da atividade de fusões e aquisições na Europa parece estar a ser influenciado pelos riscos inerentes ao “Brexit” e à forma como o processo de saída do Reino Unido da União Europeia está a decorrer, que se sobrepõe a uma percecionada diminuição geral dos riscos políticos na Europa continental.

Em Portugal, à semelhança de outros países da Europa do sul, os dados disponíveis sobre o número de transações concluídas e número de transações em curso sustentam previsões que apontam no sentido de um crescimento ligeiro da atividade de M&A no ano de 2017.

Para o crescimento da atividade de fusões e aquisições está a contribuir o bom desempenho da economia portuguesa no ano de 2017, projetando-se para este ano um crescimento do PIB substancialmente superior ao do ano de 2016 (2,5% na projeção do Banco de Portugal de 4 de outubro), superior ao da média da zona euro, assente essencialmente no crescimento substancial das exportações, que deverá compensar alguma quebra no consumo (público e privado). Por outro lado, parece ser atingível o objetivo de redução do défice orçamental para 1,5% do PIB em 2017.

Na sequência da melhoria dos indicadores da economia portuguesa, já em meados de setembro, a agência de rating “Standard & Poor´s” subiu a notação da dívida pública portuguesa de BB+ para BBB- (de dívida especulativa para dívida em grau de investimento) e atribuiu à notação uma perspetiva ‘estável’. A melhoria da notação da dívida pública portuguesa terá certamente repercussões muito favoráveis no desempenho da economia e no crescimento das empresas. Por outro lado, com a alteração da notação da dívida pública portuguesa a aquisição de targets portugueses passa a ser enquadrável na política de investimentos de mais investidores estrangeiros, o que incrementará o nível de aquisições “inbound“, que muito pesam na dinâmica do mercado de M&A português. Em suma, têm vindo a ser reunidas um conjunto de condições que certamente contribuirão para uma melhoria na atividade de M&A no último trimestre de 2017 e, com maior intensidade, no ano de 2018.

O setor Imobiliário continua sendo o destaque das transações de M&A no mercado Português, uma tendência que se mantem desde 2015, porém setores como Tecnologia e Financeiro, particularmente pelas fintechs, também tem atraído a atenção de investidores externos. Como avalia essas movimentações de mercado e quais são as expectativas para os próximos meses?

É no sector imobiliário que têm ocorrido o maior número de transações em fusões e aquisições, tendência que vem desde 2015 e continuará a manter-se em 2017 e, provavelmente, no ano de 2018. O mercado imobiliário continua em crescimento, transversal aos diversos segmentos (escritórios, retalho, investimento, residencial e hoteleiro), com uma forte presença de investidores internacionais.

O sector das empresas tecnológicas também tem estado particularmente ativo, registando-se um número assinalável de transações nos últimos anos. Tem havido um interesse crescente dos investidores no setor das FinTech, atendendo a que projetos de sucesso destas empresas, assente em saltos tecnológicos, poderão ter um enorme potencial de transformação da forma como as atividades financeiras ou atividades conexas são desenvolvidas. E em Portugal têm surgido “Startups” no sector que têm despertado a atenção dos investidores internacionais e das empresas financeiras.

Em relação aos deals envolvendo investimentos de Private Equity, como caracterizaria essas negociações em Portugal nos últimos 12 meses em termos de valores e também sobre quais são os targets dessas transações? Poderia nos fornecer um “insight” sobre as principais tendências que estão se moldando nesse setor?

Nos primeiros três trimestres do ano de 2017, verifica-se uma tendência de crescimento da atividade de “Private Equity“, com um aumento do número e volume de transações, com especial relevância para o setor energético, indústria de construção, saúde e financeiro, sendo expectável a manutenção dessa tendência até final do ano e no princípio do ano de 2018.

O ano de 2017 tem sido marcado pelo incremento das operações de desinvestimento, não só de empresas que pouco sofreram com a grave crise que Portugal atravessou em anos recentes, por estarem dirigidas ao setor exportador, como também de empresas que mais rapidamente recuperaram, a partir de 2015, em face da melhoria das condições económicas. Para este crescimento contribuiu decisivamente o aumento do investimento estrangeiro realizado por investidores institucionais e industriais. Na medida em que se mantenha o bom desempenho da economia portuguesa, que dependerá de muitas variáveis dificilmente controláveis, internas e sobretudo externas, é natural que no ano de 2018 venhamos a ter um crescimento relevante do investimento de “Private Equity“.

Como as saídas de Private Equity tem se desenhado no país? Já é possível identificar um padrão em relação à essas transações?

Após um período em que foi difícil concretizar operações de desinvestimento, no ano em curso regista-se uma retoma desse tipo de operações parecendo ter havido uma preocupação das “Private Equity” em diminuir a incerteza quanto ao preço de venda, o que incentivou a não utilização de mecanismos de ajuste de preço, o recurso a mecanismos de “locked-box” e a introdução de limites mais ambiciosos no que respeita à responsabilidade por violação de declarações de representação e garantia.

As operações de Venture Capital poderiam, após as rodadas realizadas por fundos nacionais e internacionais em startups de Portugal recentes, retomar uma tendência de crescimento? Quais são as expectativas para essa modalidade de investimento em Portugal no próximo ano?

Temos assistido a um crescimento das operações de “Venture Capital“, muito embora este tipo de operações continue a ter um peso relativamente baixo no investimento em capital de risco. Não obstante, a crescente dinâmica e afirmação das “Startups” portuguesas, inclusivamente no contexto internacional, deverá conduzir a um aumento dos investimentos de “Venture Capital“. Os apoios públicos também poderão dar um contributo bastante positivo na dinamização do “Venture Capital“, como é o caso do recém criado Fundo de Coinvestimento 200M, com um capital inicial de 100 milhões de euros, destinado a fomentar a constituição e capitalização de empresas em fase de arranque, através de operações de “Venture Capital” a realizar conjuntamente por operadores de capital de risco públicos e privados.

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Dobram transações no setor de construção

TTR-Deal-Tracker

TTR Deal Tracker
www.TTRecord.com

BRASIL

 O TTR Deal Tracker Brasil é um email mensal que contém tendências do mercado transacional  brasileiro, além de incluir um ranking  Year to Date (YTD) dos principais assessores jurídicos e financeiros.


BRASIL: Dobram transações no setor de construção

O número de transações envolvendo empresas que atuam no segmento de construção apresentou um aumento de 112% de janeiro a novembro de 2016, se comparado ao mesmo período de 2015, de acordo com os dados TTR (www.TTRecord.com).

Quanto ao total de transações cross-border no setor, foram registradas oito aquisições de empresas brasileiras por parte de estrangeiras (YTD), enquanto em 2015 somaram-se cinco. A maior transação deste tipo em 2016 foi a aquisição de 50% da brasileira Companhia Industrial de Cimentos Apodi pela grega TITAN Cement Group, por R$ 328 milhões.

Houve ainda um aumento no número de acordos relacionados à compra de ativos e a formação de joint ventures.

Rankings / League Tables

Brasil Ranking – 2016

Assessoria Financeira – Year to Date (YTD)
Por valor total de transações

O Banco Bradesco BBI lidera o ranking TTR de assessores financeiros por valor total de transações, no período de janeiro a novembro de 2016, com crescimento de 149% em relação ao ano anterior. Na segunda posição está o Banco Itaú BBA, que apresentou aumento de 42%. O pódio é ocupado também pelo Bank of America, que com um crescimento de 745% está na terceira posição. Em 2015, o banco não estava contemplado no ranking.

O BTG Pactual subiu uma posição em relação ao ano passado, mesmo com redução de 28%. A francesa Rothschild, que havia sido a última colocada no ano passado, alcançou a quinta posição com um crescimento de 3%. A J.P. Morgan Chase International Holdings caiu 3 posições decorrente da redução de 49% no valor total de transações.

Em sétimo lugar, o espanhol Santander teve decréscimo de 5%. Morgan Stanley, manteve a oitava posição mesmo com redução de 41% em relação ao período passado. Com um valor total 67% abaixo do ano de 2015, a Goldman Sachs desceu duas posições e se classificou em nona. Fecha o ranking o francês Crédit Agricole, que não figurava na tabela de 2015.

Assessoria Financeira – Year to Date (YTD)
Por número total de transações

O líder do ranking de número de transações é o Banco Itaú BBA, que manteve o mesmo volume e posição do ano anterior. O Banco Bradesco BBI cresceu 87% e conquistou a prata. Em terceiro lugar está o Banco BTG Pactual, que apresentou redução de 4% em relação ao ano passado e caiu uma posição.

Bank of America, que não estava no ranking de 2015, ocupa a quarta posição com crescimento de 160%. Em quinto lugar está a Vince Partners, que também manteve a mesma posição e volume de transações do ano passado. Em sexto está a Cypress Associates, que não figurava no ranking passado.

Banco Santander classifica-se em sétimo com crescimento de 100%. O BR Partners desceu uma posição com a redução de 25%. A Rothschild manteve a nona posição, entretanto apresentou um valor total 16% abaixo do ano anterior. Por fim, a J.P. Morgan Chase International Holdingscresceu 25%.

Assessoria Jurídica – Year to Date (YTD)
Por valor total de transações

Entre os escritórios jurídicos brasileiros, destaca-se em primeiro lugar Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Queiroga, com uma escalada de duas posições, em relação ao ranking TTR de 2015, e crescimento de 132% de janeiro a novembro de 2016. Pinheiro Neto Advogados manteve a segunda posição conquistada, e apresentou crescimento de 67%. Fecha o pódio, o escritório Veirano Advogados, que não figurava na tabela do ano anterior, mas galgou um aumento de 731%.

Duas posições acima em relação ao ano passado, Lefosse Advogados classifica-se em quarto lugar com crescimento de 66%. TozziniFreire Advogados, que não havia sido contemplado no ranking de 2015, saltou para quinta colocação com 970% de crescimento. Barbosa, Müssnich, Aragão passou de quarto a sexto lugar no ranking, com redução de 29% no valor das transações.

O escritório Pinheiro Guimarães Advogados cresceu 198% no período. Demarest Advogados, que também não estava no ranking do ano anterior, apresentou aumento de 1391% no valor e ocupa, portanto, a oitava posição. Souza, Cescon, Barrieu & Flesch Advogados passou da quinta à nona colocação, com redução de 27%. De primeiro a décimo colocado, Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados teve decréscimo de 72% em relação a 2015.

Assessoria Jurídica – Year to Date (YTD)
Por número total de transações

O escritório Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga é líder também em volume de transações de janeiro a novembro de 2016, com crescimento de 31%, se comparado ao mesmo período de 2015. O segundo colocado, Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados, soma nove transações a mais que o ano anterior, um crescimento de 21% e duas posições acima. Pinheiro Neto Advogados, que no ano passado havia galgado o primeiro lugar, está em terceiro no ranking de 2016 com redução de 14%.

Souza, Cescon, Barrieu & Flesch Advogados assessorou a mesma quantidade de negócios do terceiro colocado, mas ocupa a quarta colocação desempatado pelo valor de transações. TozziniFreire Advogados apresentou crescimento de 64% e escalou 4 posições de um ano ao outro. Barbosa, Müssnich, Aragão teve redução de 24% e caiu uma posição.

Stocche, Forbes, Padis, Filizzola, Clapis, Passaro, Meyer e Refinetti Sociedade de Advogados, que não figurava na tabela do ano passado, classificou-se em sétimo colocado com crescimento de 68%. Em oitavo e nono lugar, respectivamente, estão Veirano Advogados, com redução de 27% no volume de transações e Demarest Advogados, que também encolheu 19%. Fecha o ranking o escritório Lefosse Advogados, que no ano anterior não apareceu entre os dez primeiros colocados e, desta vez, apresentou crescimento de 91%.


* Os Rankings TTR deste report são elaborados com transações anunciadas e/ou concluídas em 2016 Year to date. Estão incluídas transações de investimento e desinvestimento de Private Equity / Venture Capital, compra/venda de ativos e formação de Joint Ventures. Os Rankings de assessores jurídicos do México e do Brasil consideram apenas assessorias nas respectivas leis locais. Em todos os rankings são considerados apenas deals onde alguma empresa do respectivo país tenha sido target na transação, no caso do ranking LATAM, algum país latinoameircano. No ranking LATAM não há especificação sobre a lei da assessoria, além disso o filtro considera apenas firmas de UK/US.

Em caso de empate o critério de desempate é: empate por número de transações, se desempata com o valor total; empate por valor total, se desempata por número de transações. E quando exista um empate em número e valor, será mantida a mesma posição e a ordem será alfabética.

** Leva-se em conta o mesmo período do ano (do começo de janeiro ao fim de novembro) de 2015 para fazer as comparações dispostas acima.