DealMaker Q&A

Entrevista com  sócios do escritório Cescon, Barrieu, Flesch & Barreto Advogados, Maria Cristina Cescon e Darkson Galvão.

Em entrevista ao TTR, Maria Cristina Cescon e Darkson Galvão, sócios das áreas Societário e Governança Corporativa, Fusões e Aquisições e Private Equity do Cescon, afirmam que a demanda do escritório “por assessoria em operações de M&A continua forte, apesar da expectativa de que algumas dessas novas operações possam aguardar o resultado das eleições presidenciais e a melhora da percepção internacional em relação aos mercados emergentes para avançarem“.

Leia a entrevista completa abaixo:

Em um contexto ainda de instabilidade política e econômica, além da expectativa em torno das eleições presidenciais, quais as perspectivas para o mercado de M&A até o fim do ano? Qual avaliação pode ser feita do mercado de M&A brasileiro em 2018?

Para 2019, esperamos uma forte retomada do mercado de M&A, principalmente se a eleição presidencial for vencida por um candidato alinhado com as reformas esperadas pelo mercado.

O que se verificou no primeiro semestre de 2018 foi um mercado de M&A bastante aquecido, que não parece ter sido afetado pela instabilidade política. Houve destaque para algumas operações de grande porte, tais como a operação entre a Suzano e Fíbria, a aquisição do controle da Eletropaulo pela Enel, a aquisição do controle da Somos pela Kroton, a aquisição do controle das atividades do Walmart no Brasil pela Advent, a joint venture formada pela Boeing e Embraer e a aquisição da Embraco pela Nidec, o que resultou num aumento do volume financeiro de operações no semestre em relação ao mesmo período de 2017, apesar da redução no número total de transações computadas no mesmo período.

Para o segundo semestre, de um modo geral, a demanda ao nosso escritório por assessoria em operações de M&A continua forte, apesar da expectativa de que algumas dessas novas operações possam aguardar o resultado das eleições presidenciais e a melhora da percepção internacional em relação aos mercados emergentes para avançarem.

Para 2019, esperamos uma forte retomada do mercado de M&A, principalmente se a eleição presidencial for vencida por um candidato alinhado com as reformas esperadas pelo mercado.

O Cescon tem participado de algumas das mais relevantes operações envolvendo o setor de Energia do ano, dentro elas a aquisição do controle societário Eletropaulo pela Enel, após a conclusão da Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre a totalidade das ações da distribuidora de energia paulista por 5,55 bilhões de reais. Quais são os principais desafios das operações desse setor em termos de assessoria jurídica? Quais as tendências e expectativas para esse setor nos próximos meses e em 2019?

A OPA de aquisição do controle da Eletropaulo pela Enel foi uma das operações mais desafiadoras e inovadoras dos últimos anos. Além de todas as questões que envolvem a aquisição de uma companhia de distribuição, ou seja, que atua em mercado regulado, e com a relevância e complexidade da Eletropaulo, a operação foi a primeira OPA concorrente efetivada no Brasil, o que fez com que a própria CVM e B3 colocassem em prática normas para esse tipo de disputa pela primeira vez.

Com relação às expectativas do setor de energia, não é de hoje que este setor está movimentado. Acredito que o setor continuará a se destacar nos próximos meses e em 2019. Temos uma boa movimentação no setor, tanto em consolidação, como em desinvestimentos e venda de ativos. Por exemplo, o processo de privatização dos ativos de geração, transmissão e distribuição da Eletrobrás e das novas rodadas de leilões previstos pelo Ministério de Minas e Energia (MME) – ANEEL e EPE devem movimentar bastante o mercado de energia.

Havia uma grande expectativa em torno da área de mercado de capitais para o país em 2018, após o que foi considerado um ano de retomada em 2017. Do seu ponto de vista, qual a avaliação que pode ser feita desse segmento até aqui? Ainda podemos falar de movimentações em 2018 ou agora o foco é mesmo 2019?

Houve um bom volume de captações no mercado de capitais via equity no primeiro quadrimestre do ano, como por exemplo os IPOs da Hapvida, Intermédica e Banco Inter, mas que acabou não se sustentando nos meses seguintes, tendo várias companhias suspendido o seu processo de emissão de ações desde então. Essa mudança de humor do mercado se deve à proximidade das eleições presidenciais e incertezas no seu resultado, bem como à piora na perspectiva do mercado internacional em relação aos emergentes. A expectativa para o segundo semestre de 2018 é de que o mercado continue em ritmo desacelerado até o final das eleições ou até que o panorama eleitoral esteja mais definido. Caso um candidato pró-mercado e com agenda reformista vença ou mostre-se na iminência de vencer, é esperado que tenhamos uma nova janela de mercado já no final de 2018 e, principalmente durante o ano de 2019, com grande fluxo de operações.

Já o mercado de renda fixa vem se mostrando aquecido durante todo o ano de 2018 e a expectativa é que o resultado consolidado do ano seja superior ao de 2017, o que demonstra a preferência desse tipo de aplicação por investidores em ano de grande instabilidade local e internacional.

Os números relacionados aos investimentos de Private Equity no mercado brasileiro tiveram resultados bem abaixo em 2018 daqueles obtidos em 2017. Diante de um cenário desafiador, quais são as expectativas em termos dos movimentos desses fundos no país? Do ponto de vista de um escritório que têm tido uma atuação destacada nessa modalidade de investimento, quais foram as operações de Private Equity mais interessantes do ano?

Não obstante os resultados abaixo do esperado, observa-se nos últimos meses um aumento da captação de recursos por gestores de fundos de Private Equity locais e os internacionais com atuação local, principalmente daqueles com uma boa base de relacionamento com investidores e robusto histórico de performance no país. Acredita-se que o atual cenário, apesar de desafiador, favoreça o surgimento de oportunidades interessantes de investimentos. Isso nos leva a acreditar que, assegurada alguma estabilidade econômica e política, o ano de 2019 será muito interessante para a indústria de Private Equity.

Até o momento, se destaca o movimento já iniciado há algum tempo de investimentos realizados por Private Equities para consolidação de setores como o de tecnologia, saúde, educação e varejo. E, para o resto do ano, estamos representando alguns fundos estrangeiros, em operações ainda em curso nesses setores e que provavelmente serão concluídas ainda neste ano.


 

Entrevista com Guilherme Sampaio Monteiro, sócio do Pinheiro Neto Advogados, sobre o mercado de capitais brasileiro em 2018

Guilherme Sampaio Monteiro, sócio do Pinheiro Neto Advogados desde 2011, fala com o TTR sobre o cenário do mercado de capitais brasileiro em 2018.

Depois de três anos de estagnação, em 2017 o mercado de capitais brasileiro deu sinais positivos de retomada. Para 2018, pode-se esperar uma continuidade desse cenário? Como descreveria a performance do primeiro trimestre de 2018?

2018 promete ser um bom ano ao mercado de capitais. Entretanto, a volatilidade trazida pelas eleições e cenário externo complexo irão impactar a performance dos IPOs. Além disso, estamos vendo um menor número de follow ons, que foram parte importante do mercado de ações no ano passado.

Os valores alcançados com os IPO’s em 2017 ficaram aquém das expectativas, visto que apenas a oferta do Burger King saiu no topo da faixa indicativa? Para o ano, quais são as expectativas em termos de valorização de ativos e de novas aberturas de capital? A volatilidade do mercado e a instabilidade política preocupam?

Eu não diria. Se o IPO foi concretizado, significa que Companhia e Controladores, de certa forma, estavam satisfeitos com os valores obtidos. Entretanto, apesar de não ser nossa área de expertise, nos parece que os ranges dos IPOs deste ano já estão considerando o histórico do ano passado. Como disse acima, a instabilidade política preocupa.

O Pinheiro Neto atuou no IPO do PagSeguro, o primeiro a ser completado no mercado brasileiro em 2018, e que foi finalizado acima da faixa indicativa. Como descreveria essa operação em termos de importância para mercado nacional?

É uma operação muito importante para a economia brasileira, que evidenciou a possibilidade de empresas brasileiras de tecnologia acessarem o mercado americano, que está mais acostumado com esse tipo de companhia, num valuation adequado. Sem dúvida estimula outras companhias a seguirem o mesmo caminho. Por outro lado, o sucesso de uma operação não realizada no Brasil é algo que deve ser bem analisado internamente. Como país, temos que pensar em como internacionalizar nossos mercados e torná-los mais atraente a investidores do mundo todo.

De 2016 para 2017, houve um incremento também nos números de operações de “Follow-on” em termos de aporte. Quais foram os fatores que mais influenciaram essas movimentações e quais as expectativas para o decorrer de 2018?

Acredito que em 2016 e 2017 havia uma grande demanada reprimida de empresas nacionais que buscavam uma oferta de ações. Com a abertura de mercado, as empresas abertas jpa consolidadas e grandeporte foram um destino óbvio para os investidores. Para 2018, nos parece que as opção são um pouco menores, mas ainda esperamos alguns follow ons para o ano.

**************

Guilherme Sampaio Monteiro, partner at Pinheiro Neto Advogados since 2011, talks to TTR about the Brazilian capital market scenarios for 2018.

After three years of economic stagnation, the Brazilian capital market showed signs of recovery in 2017.  Could this promising scenario be expected for 2018 as well? How would you describe the performance levels in the first quarter of 2018?

PN: 2018 promises to be a good year for the capital markets. However, the uncertainties brought by the coming elections and by such a complex international scenario are likely to have an impact on the performance of IPOs. Besides, there has been a slowdown in follow-ons, which were an important element in the stock market performance last year.

Were the IPO values in 2017 below expectation, as only the Burger King offer was priced at the top end of indicative range? What are the expectations for the year in terms of asset appreciation and new IPOs? Are market volatility and political instability worrisome?

PN: I wouldn’t say so. If an IPO is priced, it means that the company and its controlling shareholders were somehow satisfied with the values. Nevertheless, although this is not our area of expertise, we believe that the IPO ranges this year are already taking last year’s history into account. As I said, political instability is a matter of concern.

Pinheiro Neto has acted in the IPO of PagSeguro, the first to be completed in the Brazilian market in 2018, and eventually priced above indicative range. How would you describe this transaction in terms of its importance for the Brazilian market?

PN: This is an extremely important transaction for the Brazilian economy in that it showed the possibility of Brazilian tech companies accessing the US market, which is much more comfortable with such types of companies, at an adequate valuation. This will undoubtedly encourage other companies to follow suit. On the other hand, the successful outcome for a transaction not carried out in Brazil should deserve careful consideration locally. At country level, we must think of how to make our markets more open and attractive to international investors.

From 2016 to 2017, the number of follow-ons also picked up in terms of contribution. Which were the factors that most influenced those moves, and what could be expected for 2018?

PN: I believe that in 2016 and 2017 there was a pent up demand for follow-on public offers by local companies. As the markets opened up, large-sized and well-settled listed companies were a natural bet for investors. For 2018, it seems that the options will not be so plentiful, but we still expect some follow-on along the year.

 

Carlos Lobo fala da economia do Brasil na área de fusões e aquisições

Carlos Lobo é sócio do Veirano Advogados e atua principalmente nas áreas de fusões e aquisições, private equity e mercado de capitais. Lobo fala com a TTR sobre a economia brasileira em relação ao mercado de fusões e aquisições

Com o fim de 2017 se aproximando, poderia nos dar uma visão geral do estado atual do mercado brasileiro de fusões e aquisições? Como avalia a performance de 2017?

O ano de 2017 me pareceu um ano bem mais ativo que 2016. O ano passado foi impactado negativamente pela paralisia provocada pelo processo de impeachment e a crise econômica. Este ano, apesar de um ambiente político ainda bastante instável, temos um cenário macro econômico mais favorável e as perspectivas são positivas, de uma recuperação gradual. Isto tem contribuído para melhorar o humor dos investidores, principalmente os estrangeiros, animando-os para fazer investimentos de longo prazo.

Em paralelo, temos uma situação em que grandes empresas estatais e conglomerados nacionais estão em situação financeira bastante difícil, como resultado da operação Lava Jato, dos anos de recessão e do aperto no crédito. Esta situação está impulsionando um amplo processo de venda de ativos que só encontra paralelo nas privatizações da década de 90. A oferta de bons ativos a preços atrativos está contribuindo de forma significativa para impulsionar o mercado de fusões e aquisições

O senhor possui vasta experiência na assessoria a emissores e subscritores em IPOs, follow-ons e emissão de títulos de dívidas em mercados de capitais nacional e internacional, do seu ponto de vista, qual a avaliação que pode ser feita do Mercado de Capitais brasileiro em 2017? E quais as expectativas para o próximo ano?

Estamos observando uma recuperação do mercado de capitais este ano, com o número de ofertas superando de forma significativa os anos anteriores. Acredito que é uma consequência natural do início da recuperação econômica, ocasião em que as companhias voltam a ter necessidade de recursos para investir em crescimento e os investidores voltam a apostar no potencial de retorno do mercado e da economia brasileira.

Além disso, temos um fato novo, que a redução do papel do BNDES como financiador de grandes empresas. Com as limitações fiscais do atual governo, o mercado de dívida brasileiro volta desempenhar o seu papel de prover recursos de longo prazo para as empresas brasileiras. Vejo isto como uma tendência extremamente salutar para o dinamismo da nossa economia. Acredito que o próximo ano pode ser impactado pelo calendário eleitoral. Os investidores estão apostando que o próximo presidente será alguém alinhado com políticas mais conservadoras do ponto de vista fiscal e que busque estimular o investimento privado. Em se confirmando essa expectativa, podemos ter um ano bastante positivo. Caso contrário, espero um cenário de muita volatilidade.

Em 2017, o senhor teve uma atuação destacada em transações no setor de energia. Quão importante é este setor hoje para a economia brasileira? É possível reconhecer alterações ou inovações nos últimos anos em relação às transações realizadas no setor? Quais são as tendências para 2018?

O setor de energia sempre foi um setor de destaque na economia brasileira, tendo em vista sua importância estratégica para o crescimento do país. Atualmente, o setor está em evidência pela fase de transição que está passando. Estamos saindo de um modelo com forte presença estatal para um cenário em que novas empresas privadas e fundos de investimento, especialmente estrangeiros, ganham papel protagonista.

O aprimoramento do marco regulatório e a diversificação da matriz energética também contribuem para dar dinamismo a esse setor, estimulando operações de fusões e aquisições. Os recentes leilões de linhas de transmissão também trazem novos projetos para o mercado. Para o próximo ano vejo perspectivas bastante positivas. Alguns desinvestimentos bastante relevantes devem acontecer, mudando o perfil do setor no Brasil.

Após se tornarem os maiores investidores estrangeiros em fusões e aquisições no País, os chineses mantêm o apetite por ativos brasileiros e estiveram entre os maiores compradores dos leilões ligados ao setor de energia do governo federal. Acredita que esse apetite se manterá em 2018?

Acredito que sim. As empresas chinesas do setor de energia estão bem capitalizadas e tomaram a decisão estratégica de expandir para outros países. Nesse cenário, o Brasil tem se mostrado um país amigável, com marco regulatório moderno e um mercado em expansão. É natural que canalizem para cá seus investimentos.

É possível que estejamos ainda no início desse processo, já que os investimentos bem sucedidos feitos pelas líderes nacionais abrem caminho para outras empresas chinesas se interessarem pelo nosso mercado.

Acredita que em 2018 possa ocorrer uma intensificação das operações de M&A? Quais cenários ou tendências já podem ser identificados, e quais setores possuem, na sua opinião, maior potencial de crescimento?

Acredito que sim. Em se mantendo a tendência de recuperação da economia e com um cenário político mais estável, acredito que podemos esperar um ano bastante aquecido para fusões e aquisições. Devemos observar uma continuação de algumas tendências já manifestadas este ano, com empresas estatais e grandes conglomerados nacionais vendendo empresas relevantes para investidores estratégicos estrangeiros e fundos de private equity, principalmente dos EUA, Canadá, França, China e Japão. Setores que estão e devem continuar aquecidos incluem o setor de energia, infraestrutura, óleo e gás, educação, saúde, tecnologia e varejo.

Leia sobre as transações de Carlos Lobo aqui.

Para saber mais sobre o escritório Veirano Advogados, clicke aqui.